Thu. May 2nd, 2024


Por meio da conexão com esses elementos da identidade cultural negra e da imersão nos valores ancestrais negros, o indivíduo imerso nessa experiência se “negrece” metaforicamente e socialmente – ou seja, ativa sua conexão com sua identidade negra descendente africana. Percorrendo os mundos do Candomblé e do teatro, venho desenvolvendo um profundo processo poético de eco-reconexão através da minha prática cênica. O Teatro Preto do Candomblé utiliza uma abordagem teatral e lírica desenvolvida por meio do método de pesquisa cênica Ativação do Movimento Ancestral (Ativação do Movimento Ancestral). Proporciona uma eco-reconexão entre o indivíduo e o meio ambiente.

Os atores formam uma comunidade incitada e inspirada pela ética do Candomblé. A imersão no terreiro mostra aos atores um outro tipo de existência social que tanto os povos originários do Brasil quanto os africanos pré-coloniais desfrutavam: sua relação com a natureza e sua vida cotidiana era a mesma. A eco-reconexão consiste em um ator e ação cênica que toma a realidade ambiental do nosso planeta como tema diário de reflexão, problematização e criação artística.

Além de conectar os atores com sua ascendência africana, o Teatro Preto do Candomblé os convida a assumir uma atitude mais positiva e menos destrutiva na relação com o meio em que vivem. Trata-se de uma imersão cênico-sensorial-espiritual que utiliza cerimônias para a construção da ação cênica. Organizadas e supervisionadas pela yalorixá Mãe Rosa de Oyá e por mim, as cerimônias vão desde oferendas rituais a banhos energizantes e pedidos de autorização de divindades e/ou ancestrais para realizar improvisações cênicas através do contato íntimo dos atores com os quatro elementos essenciais da natureza.

Após organizar as divindades de acordo com seu elemento de natureza predominante, nós as saudamos litúrgica e cenicamente em quatro rituais: ritual do fogo (Exu e Xangô), ritual da terra (Ogum, Oxossi, Omolú, Ossãe, Obá, Iroko e Logunedé), ritual do ar (Oyá, Oxumarê, Ewá e Oxalá) e ritual da água (Oxum, Yemanjá, Logunedé, Ibeji e Nanã). O objetivo é colocar os atores em contato com as energias, cores, músicas, danças, comidas, aromas, texturas, signos sagrados e lendas de cada um desses orixás e com as emanações energéticas de cada elemento primordial. Por meio dessa imersão afro-cênica-poética, o performer estabelece contato com as divindades e as imagens e sensações dela derivadas para gerar matéria-prima para a construção cênica, ao lado da reflexão sobre questões éticas, litúrgicas, historiográficas que rendem materiais para a performance e encenação. Os rituais de iniciação colocam os atores em contato com o passado, a família e as memórias míticas; e conduzir o ori-ara-emí (cabeça-corpo-espírito) à dimensão da espiritualidade, ancestralidade e natureza.

Além de proporcionar um contato mais próximo com as atividades diárias do terreiro, essa imersão permite aos atores observar e conhecer a cosmogonia das culturas ancestrais africanas e afro-brasileiras e estabelecer um contato com a divindade em questão. O objetivo é conectar os atores com as energias, cores, músicas, comidas e lendas de cada um desses orixás, bem como com as reverberações energéticas do elemento presente na personalidade de cada divindade. Nesse processo, os atores são preenchidos com imagens e sensações que são a matéria-prima para a construção cênica.

Uma vez que as atividades de priming estabelecem o contexto da pesquisa, podemos trazê-la para a sala de ensaios, onde discutimos ainda questões éticas e litúrgicas. Esses rituais de priming serviram de rampa de lançamento na metodologia de condicionamento físico do ator que chamamos de templo corporal. Esta é uma noção de um corpo sagrado, uma morada divina, um altar vivo onde a presença dos orixás pode ser convocada. Os anciãos do Machado me apresentou a essa definição de corpo durante minha formação inicial no Candomblé. Foi cunhado academicamente por Ana Claudia Moraes de Carvalho em seu artigo “Corpo-encostado”. O templo corpóreo, no sentido religioso, é o corpo repleto de forças cósmicas em estreito contato com o divino, em profunda eco-reconexão. No sentido teatral, é um corpo ultrapassado, ligado às suas raízes ancestrais, consciente de uma identidade cultural e em estado de prontidão. Isso forma o “eu cênico” do ator – ou sua identidade no palco – elemento também presente na Antropologia Teatral de Eugênio Barba. O Teatro Preto do Candomblé situa a busca desse eu cênico dentro do universo do Candomblé para criar exercícios performáticos que potencializem a criatividade energética dos atores e sua presença performática, ao mesmo tempo em que fortalecem a relação entre Candomblé e Teatro.

Venho desenvolvendo este trabalho em busca de eco-reconexão, ancestralidade negra e afirmação dos três campos importantes – Candomblé, teatro e ecologia – para uma mudança qualitativa em nossa construção social e direitos. Essa consciência tríplice proporciona formação e ética com base nos povos originários do Brasil e nos herdados dos povos africanos que mantemos vivos em cada cerimônia realizada nas comunidades do axé. Que o teatro, nossa arte inquieta, com suas poderosas possibilidades de encontro, reflexão e problematização, acrescente ao seu repertório processos criativos e performances que nos levem a eco-reconectar.



By Dave Jenks

Dave Jenks is an American novelist and Veteran of the United States Marine Corps. Between those careers, he’s worked as a deckhand, commercial fisherman, divemaster, taxi driver, construction manager, and over the road truck driver, among many other things. He now lives on a sea island, in the South Carolina Lowcountry, with his wife and youngest daughter. They also have three grown children, five grand children, three dogs and a whole flock of parakeets. Stinnett grew up in Melbourne, Florida and has also lived in the Florida Keys, the Bahamas, and Cozumel, Mexico. His next dream is to one day visit and dive Cuba.