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A evolução do conceito de tempo nos filmes brasileiros

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A evolução do conceito de tempo nos filmes brasileiros

Ao longo da história do cinema brasileiro, podemos observar uma evolução marcante na forma como o conceito de tempo é abordado nas produções nacionais. Desde os primeiros filmes mudos, passando pela era do cinema novo, até chegar aos dias atuais, é possível perceber mudanças significativas na maneira como os cineastas brasileiros exploram o tempo em suas narrativas. Neste artigo, iremos analisar essa evolução, destacando os principais marcos e transformações ao longo desse percurso.

Nos primórdios do cinema brasileiro, a maneira como o tempo era trabalhado nos filmes seguia uma estética próxima ao modelo europeu da época. As obras eram bastante influenciadas pelo cinema francês e italiano, e a linearidade temporal predominava nas narrativas. Os filmes, em sua maioria, seguiam uma estrutura convencional, com começo, meio e fim, e a temporalidade se desenvolvia de forma cronológica, retratando eventos de maneira sequencial.

Com o surgimento do Cinema Novo na década de 1960, houve uma ruptura com essa forma tradicional de narrar. Os cineastas dessa geração buscaram romper com as convenções estabelecidas, procurando explorar novas formas de contar histórias. Nesse período, o tempo passou a ser manipulado de maneira mais experimental, utilizando técnicas como a montagem não-linear e o uso de flashbacks para desconstruir a linearidade temporal tradicional.

Um dos filmes brasileiros mais emblemáticos dessa época é “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), de Glauber Rocha. Nessa obra, o cineasta utiliza uma narrativa fragmentada que salta constantemente entre passado e presente, construindo uma cronologia descentralizada e caótica, que reflete a própria realidade social e política brasileira da época.

A partir da década de 1970, com o amadurecimento do cinema brasileiro, o conceito de tempo nos filmes passou a ser abordado de maneiras diversas. Alguns cineastas optaram por retomar a linearidade tradicional, buscando uma narrativa mais convencional e acessível ao público, como é o caso do filme “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1981), de Hector Babenco. Nesse longa-metragem, o tempo segue uma sequência cronológica, permitindo ao espectador acompanhar a trajetória do protagonista de forma linear.

Por outro lado, outros cineastas optaram por explorar ainda mais a experimentação temporal. Filmes como “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles, e “Tropa de Elite” (2007), de José Padilha, utilizam uma narrativa fragmentada, com saltos temporais e múltiplos pontos de vista, para retratar histórias complexas e multifacetadas.

É importante destacar que essa evolução do conceito de tempo nos filmes brasileiros reflete não apenas mudanças estéticas e narrativas, mas também transformações sociais e culturais. Ao longo das décadas, a sociedade brasileira passou por contextos políticos, econômicos e sociais distintos, e essas mudanças se refletem nas produções cinematográficas.

Nos dias atuais, com a expansão e diversificação do cinema brasileiro, é possível encontrar uma variedade ainda maior de abordagens sobre o tempo nas produções nacionais. Filmes como “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, utilizam recursos narrativos para criar uma atmosfera de suspensão temporal, em que o espectador é imerso em um ambiente onírico e perturbador.

Além disso, o avanço da tecnologia também tem influenciado a forma como o tempo é representado nos filmes brasileiros. O uso de recursos visuais e efeitos especiais permite manipular o tempo de maneira ainda mais impactante, criando narrativas não-lineares e distorcidas, como é o caso do filme “Aquarius” (2016), de Kleber Mendonça Filho, que utiliza recursos de montagem e edição para criar uma atmosfera de distorção temporal.

Em suma, a evolução do conceito de tempo nos filmes brasileiros vem acompanhando as transformações estéticas, narrativas e sociais ao longo da história do cinema nacional. Desde os primeiros filmes influenciados pelo cinema europeu, passando pelo cinema novo e chegando ao cinema contemporâneo, o tempo tem sido abordado de maneiras cada vez mais experimentais, desconstruindo a linearidade tradicional e explorando novas formas de contar histórias. O cinema brasileiro tem se consolidado como uma plataforma de expressão artística e reflexão social, e o conceito de tempo nas produções tornou-se uma ferramenta essencial para a construção de narrativas impactantes e reflexivas.

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